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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dando e recebendo presentes-tralha


Boa noite,

Hoje eu resolvi falar sobre tralha, na verdade, mais especificamente sobre o presente-tralha. Vocês provavelmente já ganharam um desses e também já deram um a alguém. Eles são fofos, lindinhos, coloridinhos, descolados e são.. bem... inúteis e desinteressantes. Resolvi abordar esse assunto porque, fazendo as compras de Natal antecipadamente e sendo os presentes a única coisa que eu posso comprar, passei a observar a imensa quantidade de tralha que as pessoas dão umas às outras e o modo como o comércio transforma tralha em coisas lindas presenteáveis. Ok, mas o que é tralha? Tralha é tudo aquilo que nós temos e não usamos. Um presente não está fadado a ser tralha, é claro, mas, quando menos esperamos, compramos os presentes de Natal (ou de aniversário, de dia das crianças ou de qualquer outra coisa) e pronto: a tralha acontece. Acontece comigo e com vocês. Acontece quando a gente dá um presente para alguém que parece ter (ou de fato tem) tudo; quando presenteamos uma pessoa mais simples que precisa do básico; quando presenteamos até mesmo as pessoas próximas e conhecidas. De mãe para filho, de esposa para marido, entre amigos, a tralha é uma realidade!

A tralha não nasce tralha, é claro. Geralmente ela está travestida de ideia excelente e você pensa assim, que esse ano o seu presente será super original e mega criativo pois você vai dar de presente uma coisa muito diferente. Às vezes a tralha surge naquelas situações em que se tem de presentear alguém a quem se conhece muito pouco e o presente comprado é algo genérico. Pode ser que um presente vire tralha quando a gente resolve dar para a prima pobre um colar maravilhoso num momento em que na verdade ela gostaria de ganhar toalhas de banho. Outra situação potencial para tralha é aquela em que compramos cestas. Gente, eu acho lindo aquelas cestas e adoro ganhar, mas vamos combinar que muita gente guarda no armário do banheiro os sais de banho (usar como no chuveiro?) e deixa lá até mofar ou então acha linda a cesta de café da manhã com suas geléias (só que por acaso aquela pessoa destesta geléia). Quem nunca ganhou um presente de grego, levante a mão! Pior ainda: quem nunca ganhou um presente de grego e acabou guardando e usando por anos a fio só para ser agradável com alguém? Acontece. Então estou aqui hoje escrevendo no intuito de dividir com vocês as minhas novas ideias sobre presentes.  

Antes de qualquer coisa, é importante a gente ter em mente o seguinte:

1-Estamos comprando presentes para OUTRA PESSOA que não tem o mesmo gosto da gente. Muitas vezes seguimos aquele raciocínio de tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratados na hora de presentear. O resultado nem sempre é o esperado, porque tem pessoas muito queridas que não acham que ganhar alguma coisa que a gente adora é uma boa ideia. Nem toda mulher gosta de maquiagem, de sapatos, de roupa, por exemplo.

2-Precisamos parar com essa mania de não aceitar a natureza de algumas pessoas. Ok, eu acho meio chato comprar um livro de auto-ajuda para dar de presente, mas talvez seja justamente esse o presente que mais agradaria a uma pessoa que eu adoro. Eu acho meio decepcionante escolher entre 5 tons de sombras que, para mim, são absolutamente iguais, mas talvez sejam completamente diferentes aos olhos de uma amiga que gosta muito de maquiagem. Eu tenho a maior dificuldade para escolher qualquer coisa eletrônica e acho super impessoal dar algo desse tipo de presente, mas tem uma pessoa que eu adoro que pensa diferente e adoraria ganhar qualquer parafernália desse tipo. Logo, não é porque eu detesto alguma coisa e acho meio chato comprar aquilo que a pessoa a ser presenteada pensa assim, então vamos parar de querer controlar as pessoas até na hora de dar um presente. (OK, agora vamos respirar fundo e admitir que o filho adolescente prefere ganhar um sobretudo preto para usar todos os dias do ano com seus amigos metaleiros do que um tênis de corrida).

3-Nem sempre aquela nossa ideia para um presente super criativo-inédito-original realmente vai agradar. Ok, estamos cansados de dar sempre a mesma coisa, mas e se a pessoa gosta mesmo daquela coisa de sempre? Conheço muita gente que adora ganhar presentes parecidos. Isso não quer dizer que a gente não pode surpreender ou ousar na hora de presentear, mas é bom a gente ter certeza de que conhecemos a pessoa a ser presenteada razoavelmente bem ou que estejamos dispostos a correr o risco de não agradar. Talvez seja melhor correr riscos com as pessoas mais próximas (eu mesma adoro ganhar alguma coisa que não pensaria em comprar mas que depois percebo que tem tudo a ver comigo).

4-A maior parte das pessoas PRECISA de algumas coisas então talvez valha a pena a gente obserar bem para dar um presente útil. Na verdade, útil talvez não seja a palavra certa porque é comum a pessoa querer coisas que não são super úteis mas que são coisas que ela gostaria de ganhar e normalmente não compraria para si mesma.



Uma coisa que eu acho muito importante dizer, é que algumas pessoas que presenteamos podem realmente ter, no presente que damos a elas, uma das poucas oportunidades em suas vidas de ganhar alguma coisa que estão realmente precisando e, nesses casos, o presente tem uma importância muito grande para essas pessoas. Talvez na sua vida essa pessoa seja alguém que trabalha na sua empresa num cargo mais simples, talvez seja a pessoa que faz a limpeza da sua casa, talvez seja uma amiga que está passando por um aperto financeiro, talvez até mesmo um parente que tem uma situação econômica razoável mas que não consegue comprar, sei lá, um produto de que gosta de uma marca de mais qualidade. Enfim, talvez essa pessoa seja você que, apesar de ter internet e pagar suas próprias contas, está precisando de um sapato novo. Quando damos um presente útil para alguém estamos ajudando a simplificar a vida de quem recebe o presente e dando a essa pessoa a chance de deixar de gastar o dinheiro que gastaria ao comprar aquele produto. Outra coisa muito bacana que vem de brinde com o presente útil é a economia de tempo: a pessoa presenteada não terá de sair de casa e ir a uma loja para comprar aquele produto.

Como estou sem comprar coisas supérfluas, ando pensando mais no que eu compro para as pessoas e estou dando presentes que eu nunca teria comprado nos anos anteriores. Para a amiga que adora massas e que já tem de tudo, pensei que seria uma boa dar um cesta com produtos simples para fazer um jantar italiano, como molhos finos, massa artesanal, um vinho de boa qualidade, taças, queijo parmesão. Parece meio simplório, talvez, mas eu tenho CERTEZA de que ela vai gostar e vai usar. Estou tentando abolir aqueles presentes super gracinha que acabam num canto do armário e ninguém usa. Velas? Só para as pessoas que gostam de acendê-las de verdade ou que estão declaradamente querendo decorar a casa. Paninhos, toalhinhas bordadas e coisinhas afins? Só para as pessoas que deixam claro que gostam desse tipo de detalhe. Chocolates finos e vinhos maravilhosos? Só para quem conhece, aprecia e não está de dieta. Coisas para a casa? Só se eu tiver certeza ABSOLUTA de que a pessoa gosta de ganhar coisas pra casa (tem gente que detesta!). Maquiagem? Só para as mulheres que eu vi maquiadas com frequência. Gravata? Só para os homens que adoram ganhar ou que estejam precisando delas.  Agora, imaginem uma cesta de presente que consiste numa velinha aromatizada, uma toalhinha minúscula bordada, um chocolatinho lindinho engordativo, e um pegador de panela lindinho... Pode agradar algumas pessoas (como eu) que adoram coisinhas lindinhas e fofinhas, mas a probabilidade de tudo isso virar tralha é imensa na maior parte dos casos!


Acho que é possível não dar presentes-tralha para a maior parte das pessoas. Eu, pelo menos, estou me esforçando para isso. Talvez eu erre feio quando se tratar de pessoas que conheço pouco, mas aí acho que é mais compreensivo, mesmo porque, um presente, quer gostemos dele ou não, é sempre um grande prazer, pois é um gesto de carinho. Uma boa ideia para pessoa pouco conhecidas é dar itens que qualquer pessoa usaria, porém de qualidade um pouco superior ao que normalmente aquela pessoa compraria. Costuma funcionar e, se ela não gostar mesmo assim, há uma grande chance de que outra pessoa em sua família use (exemplo: se a pessoa não gostar dos sabonetes pode ser que a irmã ou a filha goste). Um dos segredos nesses casos é fazer o óbvio um pouco melhorado. Parece estranho, mas geralmente não é o que fazemos na hora de comprar presentes. Preferimos ser rebuscados, elaborados, complexos e confusos. O mais interessante é que muitas vezes o óbvio é tão incomum que, quando ele acontece, passa por criativo. Uma pessoa que adora ponto cruz, por exemplo, pode achar super criativo ganhar um kit com agulhas, linhas e revistas para bordar dentro de uma caixa de presente de bom gosto. É simples, é óbvio e funciona... mas por algum motivo insondável, é incomum! Para uma menina pequena em idade escolar várias cartelas de adesivos e algumas canetas diferentes com um embrulho bonito podem ser itens que farão muito sucesso. Dar presentes que serão apreciados de verdade não quer dizer que vamos evitar itens pouco práticos e mais românticos, mas sim que buscaremos dar presentes mais significativos que realmente interessam ao presenteado, seja um kit com ferramentas para mexer nas flores do jardim ou um livro de poesia.

Pode parecer que esse assunto não tem muita relação com o blog, mas eu acho que tem, e muita! A compra de presentes movimenta muito dinheiro e, para muitas famílias, representa a maior parcela das despesas com bens não essenciais no orçamento. Presentear também é um modo de demontrar afeto. Por tudo isso, acho que vale a pena gastarmos nosso dinheiro, tempo (e paciência) escolhendo um presente que não vai ficar jogado num canto. Outra coisa importante é a gente pensar no impacto que os presentes não utilizados têm no mundo (ok, agora eu endoidei de vez, vocês podem estar pensando): um monte de recursos de todos os tipos, a força de trabalho de muitas pessoas, impacto ambiental em várias escalas, tempo, energia e um monte de coisas importantes foram investidos em cada lembrancinha que alguém ganhou e que não foi utilizada.

Então vamos pensar duas vezes ante de dar um presente lindo e genérico embrulhado em mil laços de fitas ou alguma coisa super lindinha que... a pessoa não gosta. Vamos pensar em presentes que serão usados de verdade ou que, apesar de não serem usados de forma prática, terão um valor muito grande para quem os receber (como por exemplo um álbum de fotos que só olha de vez em quando). Vamos romper com essa ideia de que um presente que gostaríamos de ganhar vai agradar alguém só porque essa pessoa tem mais ou menos a nossa idade ou faz mais ou menos as mesmas coisas que nós. Vamos abolir a noção de que um produto de marca famosa ou um presente caro será necessariamente um bom presente. Vamos evitar a tentação de comprar centenas de milhares de bibelôs se não tivermos certeza de que a pessoa gosta de coisinhas sobre os móveis. Vamos tentar entender que coisas desnecessárias que ninguém usa são uma forma triste de desperdício que deve ser combatido. Por outro lado, vamos também compreender que nem todo mundo que ganhar coisas super práticas e que, salvo raríssimas exceções, a maior parte das mulheres não fica feliz ao ganhar panelas e a maior parte dos homens não acha o máximo ganhar gravatas.

Termino o post convidando vocês leitores a participar através dos comentários contando sobre presentes que ganharam e que usaram muito e também sobre os que nunca usaram. No meu caso me lembro que um dos presentes que mais gostei foi uma caixinha cheia de cartões em branco para serem utilizados em datas comemorativas; como a pessoa que me deu me conhece muito ela sabia que adoro escrever cartões. Foi um presente simples e, imagino, relativamente barato, mas eu adorei. Dois presentes que eu nunca usei foram um par de brincos de argola bem grandes, douradas (quem me conhece entende como esse presente é absurdo para mim) e um livro do Stephen King (bem menos absurdo, mas não faz muito a minha cabeça): por sorte pude trocar esses dois presentes sem maiores constrangimentos!

Abraço,

Marina Paula

Fonte: http://umanosemcompras.blogspot.com.br/2011/09/dia-108-dando-e-recebendo-presentes.html